sexta-feira, 29 de maio de 2009

um índio

Caetano Veloso

um índio descerá de uma estrela colorida, brilhante,
de uma estrela que virá numa velocidade estonteante
e pousará no coração do hemisfério sul,
na América, num claro instante.

depois de exterminada a última nação indígena
e o espírito dos pássaros, das fontes de água límpida,
mais avançado do que a mais avançada
das mais avançadas das tecnologias...

virá, impávido que nem Muhamed Ali,
virá, que eu vi, apaixonadamente como Peri,
virá, que eu vi, tranquilo e infalível como Bruce Lee,
virá, que eu vi, o axé do afoxé, Filhos de Ghandi.

um índio preservado em pleno corpo físico,
em todo sólido, todo gás e todo líquido,
em átomos, palavras, alma, cor, em gesto, em cheiro,
em sombra em luz, em som magnífico.

num ponto equidistante entre o Atlântico e o Pacífico,
do objeto, sim, resplandecente, descerá o índio.
se as coisas que eu sei que ele dirá, fará,
não sei dizer assim, de modo explícito...

virá, impávido que nem Muhamed Ali,
virá, que eu vi, apaixonadamente como Peri,
virá, que eu vi, tranquilo e infalível como Bruce Lee,
virá, que eu vi, o axé do afoxé, Filhos de Ghandi.

e aquilo que, nesse momento, se revelará aos povos,
surpreenderá a todos, não por ser exótico,
mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
quando terá sido óbvio.

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