sábado, 25 de abril de 2009

hotel à beira-mar

Raimundo Fagner e Zeca Baleiro

vejo a luz do Mucuripe,
belo inútil videoclipe,
blues amargo de razão.
nenhum barco me acena
e minhalma quase plena
ri do caos, da confusão
do trânsito engarrafado,
do grito desesperado
calado, da multidão.
cai a tarde como um pano,
sonora como um piano,
sobre a minha solidão.

o céu me fez astronauta
pra que eu ache o que me falta
nesta galáxia fria.
nem a dor nem o desejo,
ao lábio só cabe o beijo,
que é da noite sem o dia.
quisera cantar tal fado
ébrio, febril, assombrado,
a raiva da calmaria,
mas as palavras se foram
como rojões que estouram.
depois do brilho, a agonia.

o amor é um embaraço,
música de um só compasso,
compositor, coração.
no meu rosto toca o vento,
nada mais, só o momento
infinito, breve, vão.
para quê querer futuro,
se só escombros de um muro
sobraram da construção?
a estátua de Iracema
tem o sol como cinema
e eu não tenho ilusão.

o mar vai, o mar vem...
de quem será o mar?
o mar vai, o mar vem...
ninguém pode ter o mar.

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