sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Eclipse Oculto


Caetano Veloso

Nosso amor não deu certo, gargalhadas e lágrimas.
De perto, fomos quase nada,
o tipo do amor que não pode
dar certo na luz da manhã.
E desperdiçamos os blues do Djavan.

Demasiadas palavras, fraco impulso de vida,
travada a mente na ideologia.
E o corpo não agia, como se o coração
tivesse, antes, que optar
entre o inseto e o inseticida.

Como nunca se mostra o outro lado da lua,
eu desejo viajar do outro lado da sua.
Meu coração, galinha de leão,
não quer mais amargar frustração,
ó, eclipse oculto na luz do verão.

Mas bem que nós fomos muito felizes só durante o prelúdio,
gargalhadas e lágrimas até irmos pra o estúdio,
mas, na hora da cama, nada pintou direito,
é minha cara falar:
— Não sou proveito, sou pura fama.

Nada tem que dar certo, nosso amor é bonito.
Só não disse ao que veio, atrasado e aflito
e ficamos no meio, sem saber os desejos
aonde é que iam dar,
e aquele projeto ainda estará no ar?

Não quero que você fique fera comigo.
Quero ser seu amor, quero ser seu amigo,
quero que tudo saia como som de Tim Maia,
sem grilos de mim,
sem desespero, sem tédio, sem fim.



Não me queixo,
eu não soube te amar.
Mas não deixo
de querer conquistar
uma coisa qualquer em você.
O que será?

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