quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Saharienne

Chico César

Estive pensando em você;
uma foto junto a uma fonte,
congelada pela câmara,
água de beber, camará.

A roupa leve, lembrança de neve,
gelo seco no sertão.

Saharienne.

Daqui de onde estou,
diante da televisão sem som,
posso ouvir (e ouço)
o alarido surdo dos curdos.

Sinto cheiro de carne humana assada,
a morte assídua, promíscua, conspícua
e tão pouco asseada.

Saharienne.

Saravá, Sarah Vaughan,
quem te escravisaurou?
O que fez a beirute fez ao rio,
a teia de aranha midi
me dá conforto e arrepio.

O carneiro sacrificado morre.
O amor morre.
Só a arte, não.

Saharienne.

Nenhum comentário: