quinta-feira, 29 de julho de 2010

Visões

Dante Ozzetti e Luiz Tatit


Vendo daqui, é um avião,
vendo daqui, é um passarinho.
Quem vê daqui, vê assombração,
quem vê daqui, vê só um bracinho.

Quem vê daqui, vê bem o mar e o sertão,
quem vê daqui, em vez do mar, vê um pomar;
não vê sertão, mas vê certinho.

Vejo aqui a luz que tomou conta,
que avermelhou de ponta a ponta.
Quem vê daqui, aprenderá
que o mesmo sol renascerá
só pra depois se retirar.

Virá, irá. E aí?
A lua vem. E aí?
A lua vai. E aí?
E volta o sol
É sempre o sol,
o sol e só.

O sol é lei. É lei.
O sol é rei. É rei.
É um farol.
Só dá o sol,
o sol e só,
é só o sol,
é só,
solando só,
sol e só.

Quem vê daqui, não vê o fim,
quem vê daqui, não vê inteiro,
mas é capaz de ver de longe
uma agulha no palheiro.

Quem vê daqui, não sente falta de visão,
não sente falta de vizinho.
Quem vê daqui
não tá sozinho
nem cabe em si.

Vejo um caminhão no seu caminho,
leio uma versão do seu versinho.
É uma luzinha que vai daqui,
é uma ilusão que vem daí
e a luz do sol tocando em mim.

Luz. Pra quê?
Pra reluzir. Pra quê?
Pra refletir. O quê?
Tudo que vi.

Sol. Pra quê?
Para solar. Pra quê?
Pra colorir. O quê?
O que vivi.

Som. Pra quê?
Para somar. Pra quê?
Pra ressoar. O quê?
O que senti.

Som e sol
tocando em nós.

Sol: clarão.
Som: clarim.
Vemos as florestas triunfantes
transformadas em capim
e uma enorme banda
reduzida a um clarim.

Luz, ação!
Som assim.
Quem olhar daqui,
inda vê gente
desejando ser feliz.

E daqui
só vê uma parte do nariz.
Quem olhar daqui,
vê muita coisa acontecer.

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