sexta-feira, 20 de março de 2009

sete cantigas para voar

Vital Farias

cantiga de campo de concentração,
a gente bem sente com precisão,
mas recordo a sua imagem
naquela viagem que eu fiz pro sertão.
eu, que nasci na floresta,
canto e faço festa no seu coração.
voa, voa, azulão!

cantiga de roça de um cego apaixonado,
cantiga de moça lá do cercado
que canta a fauna e a flora
e ninguém ignora se ela quer brotar;
bota uma flor no cabelo,
com alegria e zelo para não secar.
voa, voa, azulão!

cantiga de ninar a criança na rede.
mentira de água é matar a sede.
– diz pra mãe que eu fui pro açude,
fui pescar um peixe – isso eu não fui não:
tava era com namorado,
pra alegria e festa do meu coração.
voa, voa, azulão!

cantiga de índio que perdeu sua taba;
no peito, esse incêndio seu não se apaga.
deixe o índio no seu canto,
que eu canto um acalanto,
faço outra canção.
deixe o peixe, deixe o rio,
que o rio é um fio de inspiração.
voa, voa, azulão!

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