domingo, 15 de março de 2009

não peguei o ita

Nilson Chaves

por sobre a floresta amazônica, o meu destino de cantador.
Somália, Angola, Brasil, terceiro mundo: a mesma cor.
eu penso que o homem exala seu cheiro de chão,
se ele é o fruto e a raiz, tem a luz da paixão
e finca o pé qual adubo e o seu coração procria.

meu pai tem no riso, um rio de esperança revelador.
minha mãe não esconde no olhar desesperança; revela a dor.
mas ponho na boca um gosto de cupuaçu,
meu hálito cruza o país de Norte a Sul
e sinto o prazer de saber quem eu sou e o que sou pro mundo.

você sabe dançar e cantar o carimbó? eu sei!
a baía mais linda que há é a do Guajará, meu bem.
é gostoso poder navegar, te cantar e reverenciar
nas esquinas de outra cidade, nos cantos da vida...
não peguei o Ita!

eu trago a coragem na voz, Mestre Lucindo é cantador.
mangueiras resistem ao tempo e ao universo devastador.
o bosque "Rodrigues" não é a Lagoa do Rio,
mas nele a vida habita, engravida no cio.
o índio caboclo semeia segredos de amor, ainda.

o mundo percebe teu significado, o teu valor,
respira teu medo e grita o teu perigo avassalador.
eu quero poder compreender e viver mais além,
tomar tacacá numa tarde da bela Belém,
viver teu calor, ir à praça e poder cochichar com a chuva.

você sabe dançar e cantar o siriá? eu sei!
este aqui não é o Rio de Janeiro, mas é o Rio Guamá, meu bem.
vai ter show hoje no Preamar, tem a feira pra tapiocar.
vou chegar em São Paulo e brincar com o velho Bixiga...
não peguei o Ita!

não peguei o Ita!
não peguei o Ita!
não peguei o Ita, não!

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