sábado, 21 de fevereiro de 2009

beradêro

chico césar


Os olhos tristes da fita
rodando no gravador,
uma moça cosendo roupa
com a linha do equador
e a voz da santa dizendo:
"O que é que eu tou fazendo
cá em cima desse andor?".

A tinta pinta o asfalto,
enfeita a alma, motorista
é cor na cor da cidade,
batom do lábio nortista.
O olhar vê tons tão sudestes
e o beijo que vós me nordestes,
arranha-céu da boca paulista.

Cadeiras elétricas da baiana,
sentença que o turista cheire;
e os sem-amor, os sem-teto,
os sem-paixão, sem-alqueire.
No peito dos sem-peito, uma seta
e a cigana analfabeta
lendo a mão de Paulo Freire.

A contenteza do triste,
tristezura do contente,
vozes de faca cortante,
como o grito da serpente
são sons de sim – não, contudo,
pé quebrado, verso mudo,
grito no hospital da gente.

São sons, são sons de sim.
São sons, são sons de sim.
Não, no, nein, não, no nein.
Não, no, nein, não, no nein.

São sons, são sons de sim.
São sons, são sons de sim
– não, contudo,
pé quebrado, verso mudo,
grito no hospital da gente.

"Body body body body,
tem uma bala no meu coco.
Body body body body,
e não é bala de coco."

"Catolé do Rocha,
praça de guerra.
Catolé do Rocha,
onde o homem bode berra."

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